segunda-feira, 19 de novembro de 2012

EMOCÃO DE TORCEDOR


        Liliana Peixinho *

Minha canequinha do Vitória

Enfrenta fila, espera um tempão no ponto pra pega buzú lotado, investe parte do suor sagrado para reafirmar a identidade de torcedor, na compra de  camisa, ingresso, meia, boné, churrasquinho de gato, cerveja, refrigerante, água, numa partida. Leva horas falando sobre um gol ou perda dele, com o amigo, o colega de trabalho, o desconhecido, manifestando emoções em correntes solidárias na dor ou alegria.

 O torcedor é uma entidade intrigante, como a alma humana. Olha pro close no rosto da moça bonita, do moço grisalho, da criança inocente, do jovem cheio de energia, flagrados em lentes abertas, nas arquibancadas, e observe a atenção, o olhar fixo no movimento em campo, e tente acompanhar as reações, depois de cada finalização. Muda tão rápido, entre a concentração e a explosão, como o próprio movimento em campo, sentido por canais abertos a adrenalinas. Não tem como não acreditar no choro da moça bonita da arquibancada; na declaração madura do perdedor disposto a começar tudo de novo. Na repetição, inocentemente convicta,  do nome do time, pela criança, referenciada no pai,  mãe,  vô,  tio, primo, amigo, vizinho, colega de escola, do trabalho.

Lembra, ou já esqueceu, do pênalti perdido pelo Neymar Filho, na famoso jogo número 1000 da Seleção brasileira, realizado recentemente nuns Estados Unidos pós fortes tempestades e campos engramados de última hora? O torcedor perduô? Oôôôô, o Brasil empatou! Esse grito não se ouve. Mas entre perder e empatar, num jogo massivamente marqueteado mundo afora como histórico, no futebol brasileiro, argumentos diversos alimentam a cultura dos 190 milhões de técnicos brasileiros. 190 milhões? Sim, entre padres, pastores, rabinos, mães e pais de santo, psicólogos e ateus. E não adianta fingir que não foi contaminado porque é feio mentir pra corações blindados à Razão! 

Comportamentos agressivos, de xingamentos, de objetivos muito imediatos, sem visão ampliadas das diversas emoções incorporados no torcedor, não consigo entender. Acho até compreensível que no campo da disputa, da rivalidade, pode-se conviver com o humor inteligente de brincadeiras sobre perdas de pontos, posições no quadro geral de classificação. Veja essa postada pelo professor e jornalista Wilson Bueno, torcedor fiel do Palmeiras. ”Malandro mesmo é o Palmeiras que nem esperou o domingo acabar e já passou pra segunda”.

De onde vem essa emoção? Quais as suas alianças, origens? Por que é tão gratuitamente intensa, verdadeira, apaixonada? De onde vem tanto acreditar? O time perde, perde, perde, seguidamente, e cada novo jogo do calendário, extenso e contínuo, vem como uma esperança de mudança, onde regras não definem resultados diante da imprevisível combinação de movimentos natural ou estrategicamente construídos durante o tempo regulamentado, mas soberano em resultados, inesperados. Lembro da fé nordestina, diante de seca, sedenta dágua, esperando, lua à lua, sol à sol, que a chuva caia. E quando vem forte, com enxurradas, trovoadas e relâmpagos, energizam resistências para o cultivo da Vida.

Liliana Peixinho * Torcedora do Vitória (BA), Fluminense (RJ) e Central (Caruaru -PE)

Nenhum comentário: